domingo, 15 de novembro de 2015

Salta e Jujuy

A gente era assim, andarilha. A gente era assim, andarilha e se descobria assim, andando. Era uma caminhada que já natural. O joelho começava a dar sinais de dor, em pleno quarto de século. O dentes já começavam a substituir o branco pelo amarelo. O corpo, que nem se comente. O peso, que não era um problema, agora se mostrava como um.

Nessa caminhada habitual de uma nova atitude frente ao mundo. Como diz uma amiga, o mundo é o mesmo e sigue aí - o que move este planeta é a energia que seus navegantes que lançam sobre. E isso se reflete nas ações ou naquilo invísivel, que também tem sua força. A força que nossos cérebros limitados não captam por uma cultura que não aprende a reconhecer a sensibilidade.

Acabava de voltar das cidades de Salta e Jujuy.
Acabava de voltar das cidades de Salta e Jujuy.
Acabava.

As viagens se mostram assim, em beira. O retorno é importante e aos poucos entende que as viagens te mostram coisas sobre a vida. Isso era para ser óbvio, mas não é. A ideia está em como viajar e lidar com o medo. É o medo! Como uma pessoa viaja? Minha primeira viagem foi aquilo dos pais não confiarem muito, mas a única opção era confiar, e um processo intenso de hostels. Depois, em um segundo momento,

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Músicas de Córdoba

A música cordobesa.

Chacarera e o cuarteto marcam o que os argentinos chamam música folclórica (contínuas ressaltas com este termo), no entanto, o rock é de uma força desconcertadamente marcante. Frequentemente uma peña convida a disfrutar das danças que acompanham esses ritmos. (Agora vejo bem que a minha escrita em português se encontra enferrujada, precisando de um impulso, como carro que pega aos poucos depois de tanto tempo frio).
Falando em carro que pega no tranco -digo, na música- as peñas são o convite duma cultura universitária, pelo menos em Córdoba.

(Na cidade de Salta, principalmente na rua Balcarce, vi que as peñas se referem às manifestações duma cultura dita tradicional e vendida como originária do lugar, mais destacamente àquela fortemente ligada à Bolívia. São vendidas com este nome pelos restaurantes, por exemplo).

Já em Córdoba, vejo que peñas são organizadas por estudantes e pautam as músicas ditas tradicionais, junto à gastronomia que envolve o locro y otras cositas más -comparo o locro à feijoada brasileira, já que é feito em datas compreendidas como importantes, em geral, feriados do 1º de maio e dia da independência da nação, e leva milho, feijão e toda uma diversidade de carnes- e artesanato. A música mobiliza os mais diversos âmbitos da expressão cultural em tantos quantos lados que a gente ande.

A última peña que fui se realizou em clube esportivo da cidade, no bairro Alta Córdoba, e a banda musical que mais me tocou foi uma chilena, chamada Inti-Illimani. Sua poesia no palco, seu convite a pensar e sua música deixam algo para o dia posterior. Lá, a água se acabou rapidamente, mas cerveja (as mais comuns são Isenbeck, Quilmes ou Córdoba), o certeiro Fernet com coca-cola ou a gaseosa são sem fim. 

https://www.youtube.com/watch?v=vLNa_02RW7A

No que toca ao cuarteto, que tem vários vieses por aqui -como aquele que vai do mais periférico ao mais cheto, e uma das principais referências é La Mona Giménez- é um dos ritmos mais representantes da província Córdoba. Inclusive, há um movimento da Secretaria de Cultura da Província para reconhecê-lo enquanto Patrimônio da Humanidade. Falo, porque nos finais de semana é o tipo de música colocada para que toda vizinhança escute e que não necessariamente aprecie, no entanto, para uma estrangeira essas manifestações são bem interessantes -mesmo quando há essa imposição do som que não nos deixa estudar ou dormir.

Quanto à chacarera tentei dançar, mas não pude. É o tipo de música que vem desde a infância, dançada com os pais e mães. Com essa expressão me identifico mais, posso dizer, porque o ritmo é o mesmo, mas se encontra em constante re-atualização. Percebemos isso quando se ouve a rádio universitária 102.3 FM, por exemplo. Aliás, essa rádio, para mim, merece uma menção importante pelo relevante trabalho que desenvolve. Vale destacar que La Plata, capital da província de Buenos Aires, foi lugar da primeira rádio universitária da América Latina, inagurada em 1924. Só para que se tenha em mente o quanto a cultura das rádios é importante por aqui. Uma estação é pegadinha à outra, fazendo ver que há um sem número de estações com rádio livre, inclusive, já que não há essa criminalização por parte dos órgãos ditos regulatórios, tão comum no Brasil.

É difícil não seguir discorrendo acerca de rádios (porque foi uma das gratas descobertas desse ano já que vi a necessidade de entendê-las por seu alcance e seus mecanismos técnicos mais simples), assim que. A programação da rádio universitária, por exemplo, é composta de músicas que sinto ser interessante se compartilhar, por incitarem à escuta de algo mais que não apenas aquilo veiculado pela indústria cultural, mas apegado ao trabalho criativo de reflexão. Neste sentido, quando das músicas, há uma contextualização do artista, dos fragmentos da letra da música e, mesmo, da história desta. Além disso, há quadro de notícias como "Córdoba Notíciaaaaas". É quando a gente sente que a radio funciona e presta um serviço cultural de não mero entretenimento.

Naquilo relacionado ao rock. Nossa, o rock na Argentina. Na última semana fui a um chamado Spinettazo, que é uma homenagem a Alberto Spinetta, um dos ídolos nacionais junto a Charly Garcia, Fito Páez, dentre outros. (Paralamas do Sucesso é uma das bandas de rock brasileiro mais conhecidas por aqui; Paulinho Moska também tem muitas músicas gravadas com Fito Paéz e Kevin Johansen). Mas o incrível é perceber como essas pessoas, em sua maioria homens (vale destacar o recorte de gênero), são inspiradoras musicalmente para as mais variadas gerações. O Spinettazo me chamou a atenção no sentido de mobilizar tanto as bandas dos pibes que estão no comecinho e que em geral iniciam com covers. Cantam com um gosto, com uma vontade que não importa a afinação, o volume eufórico da voz ou a solidão no palco - e a gente aplaude, entende e incentivo. Para matar a fome, aquele choripan ou chori de lei.

Vale discorrer um pouco mais sobre o rock argentino.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Buenos Aires e Couchsurfing

Mandou um resumo fora do prazo a um congresso que lhe interessava. Era o mais próximo quando se falava de datas e, por isso, o mais apertado. Mandou um email, perguntou se mesmo com o prazo expirado poderia enviar o trabalho e mandou um resumo já pronto a outros congressos. Aceitaram-na. Passou as férias fechada em casa, com duas amigas que também estudavam para avaliações de seus cursos, sendo assim um julho de suporte mútuo, em que se preparavam mates, se compravam pipocas e facturas para estudar e esquentar o frio do sul. Era a primeira que escrevia academicamente em espanhol com regras da APA e vinte páginas lhe custaram quase duas semanas, ademais de ter que pesquisar essas referências tão próprias da Argentina.
 
Nos intervalos, reativou a conta do couchsurfing, desatualizada desde 2011 e com descrições que remetiam a uma época de menos aterrissagem, tamanha a leveza. Adicionou fotos que ilustravam viagens anteriores e que deixavam a mensagem da ânsia por futuras; forçou aquele inglês que tinha no repertório mesclado ao espanhol que a fazia engolir os 's'; escreveu sobre preferências mais atuais. Também respondeu às referências que as amigas de bom grado haviam deixado sobre ela, quatro anos antes.

Começou a procurar por meninas dispostas a cederem um espacinho em sua casa. Mandou mais ou menos uns dez requests explicando detalhadamente a situação e pouco tempo depois já não mais tinha forças de enviá-las, diante de tantas negativas. Assim que uma menina, que havia lhe respondido que naquele período ia trabalhar em Chile, havia mudado seus planos e decidira ficar até o fim do ano em Argentina. A ela, lhe pedi três noites (vou, assim, alternando a narrativa entre primeira e terceira pessoa, porque vou e volto, me distancio e me acerco). Me parece um bom número de dias para não incomodar tanto e não assustar aqueles te vão receber.

Depois, com forças otimistas reunidas, mandei convites a outras cinco pessoas, dentre as quais uma menina me respondeu afirmativamente. Os dias se encaixaram, três noites com os primeiros chicos e três com esta. Por um trabalho de universidade realizado às pressas, sem muito pensar coloquei um sem número de roupas dentro da mochila de sempre, que pensei que me serviria como das outras vezes. As datas de viagem foram decididas pela carona da companheira de apartamento com os pais e a partir dos dias do congresso. Ao chegar lá, ia comprar uma passagem de ônibus com dois dias de antecipação na própria estação Retiro. Isso se pode fazer virtualmente, com cartão de crédito, mas preferi ir pessoalmente já que às vezes te fazem algumas promoções: em julho passado em vez de pagar $570 pesos, minha irmã, sua amiga e eu pagamos $480.
 
Couch #1
Minha companheira de apartamento e eu (com o espanhol aprendo a ser menos egocêntrica, já que normalmente se cita o 'eu' depois de outras pessoas, ao contrário de Brasil), saímos de casa às 22h e fomos caminhando desde o bairro Observatório de Córdoba até o terminal de ônibus. Chegando lá, compramos passagens para as 23:45 à Villa Maria, o que nos custou $95. Chegamos nessa cidadezinha do interior de Córdoba às quase 2h da manhã e desde aí seus pais nos esperavam no carro, do lado de fora do terminal. Demorou um pouco até entender que íamos direto a Buenos Aires e não íamos dormir em sua casa - por isso me haviam dito que tirara o casaco, já que o carro tinha calefator.

As estradas são incrivelmente boas e livres. Sempre com no mínimo duas faixas, asfalto liso e tranquilidade. Assim viajamos durante a madrugada, parando nos banheiros que haviam quando tínhamos que pagar pedágios, esses lugares tinham água em bebedouro disponíveis. Entre cochilos e despertares para ver o nascer do sol entre aquelas árvores, mates dos motoristas e lagoas, chegando a Buenos Aires às 8h30 da manhã. Paramos antes num posto de gasolina a tomar café com medialunas.

Chegando em Buenos Aires, me despedi dos caroneiros - o que penso ter feito mal, já que poderia ter compartilhado mais eles e isso de lidar com gente, favores e boa vontade, causa arrependimentos de não responder à altura. Aquele ar de família, de pais que dirigem à frente, também me fazia falta. Mas peguei minha mochilinha e, já localizada no bairro de Palermo, fui carregar meu celular para poder me comunicar com la chica del couch. Abasteci como $30 (o mínimo é $20 para Claro), conectei-me à 3G e lhe escrevi, marcamos um horário para encontrar-nos e ela só poderia às 16h. Não morava na capital - e isso eu já sabia, mas não havia perguntado onde.

Comprei a tarjeta Sube por $25 (outra, já que esqueci a minha em Córdoba!), tomei um café dos ambulantes (que, para mim, são incríveis), caminhei por uns lados de Palermo que não conhecia, comprei umas frutas e segui à Santa Fe para o Subterraneo, ou Subte. Fui ao Once, que se pode comparar a uma 25 de março reduzida de São Paulo, para conhecer. Me dei conta que a mochila era grande demais e que, na próxima, ia levar uma mochilinha menor - precisamos de menos coisas que pensamos, não é mesmo? Perambulei por lojas indianas, comprei cadeado, comprei uns vestidos baratos, almocei e fui ao Centro para encontra-me com a menina. Combinamos no Obelisco.

Passei numa lan house, mandei um trabalho à universidade e segui para o lugar. Liguei quando cheguei, não entendi muito do outro lado da linha, esperei. Reconheci seu namorado, que havia visto pelas fotos, justo ali pertinho de uma roda de capoeira. Depois estava ela e o pai do namorado. E a partir daí, começa algo que não se conhece pelos livros de turismo.

1) Calle Rodolfo Rivarola: rua espelho, absolutamente simétrica, desde as grades das portas até as janelas. Mostrou-me o pai e sobre a qual lançamos miradas detalhadas.

2) Los 36 billares, em la Avenida de Mayo: Onde predominantemente velhinhos vão aí para apostar dinheiro em dominós, cartas e bilhares. Nunca havia ido a uma casa de jogos e continuamente me deparo que um ambiente masculino, com raríssimas mulheres jogando.

3) Estación Constitución: Lugar diário de trânsito de milhares de pessoas quem vem trabalhar na capital desde a zona norte em trem. Sempre me dizem: 'ojo ahí'. Paga-se com a tarjeta Sube $1.50, recebe-se um papelito e se encontra ao responsável. Aí o trem já é antigo, as portas estão já quebradas. Descemos em Buzarco, que é um bairro do distrito de Almirante Brown.

Buenos Aires, uma introdução

Buenos Aires é uma cidade que me deixa muda. Desde a primeira vez que a visitei, em julho de 2014, não me atrevi a escrever sobre – constantemente recai a coincidência de que conheço cidades fora do Brasil somente no inverno (e não que isso tenha relação com escrever ou não – ou há e eu não percebo).
 
Caracterizo esse primeiro momento como povoado daquela ânsia de não saber se se volta outro dia para conhecer mais detalhes e cotidianeidades, e há aí o perigo da agonia que nos faz engolir a cidade. Denomino como uma quiçá antropofagia da pressa, que nos deixa sem a calma da digestão. Essa digestão a realizo agora, já que naquele momento realizei esse processo com muito doce de leite e trabalho, na volta ao Brasil. Nesse julho, me propus a viajar sozinha e a participar de mais um curso de espanhol, para continuar uma formação que havia iniciado na Espanha, passando por Brasil em cursos na universidade e, por fim, seguindo no Centro de Línguas da Universidade Buenos Aires. Todos foram cursos de curta duração, assim como o último que se estendia por três semanas, de modo que por esse caráter fragmentário não falava bem o espanhol.
 
Num segundo momento em março de 2015, também me fui só, ficando uns dias em trânsito na cidade, já que mudava para a cidade de Córdoba capital com fins de estudo durante dois anos. Assim que fiquei na cidade sem muito querer ficar, justo para realizar trâmites necessários (que não foram migratórios e, sim, de uma bolsa para estrangeiros), e aí me acometia uma ânsia de ir àquela cidade que se localizada  no centro do país para resolver toda uma vida incerta. Paradoxalmente, foi muito interessante essa estadia em Buenos Aires, tendo em vista que a mudança teve seu impacto e procurava alguns pontos de familiaridade na cidade, que pude reconhecer.
 
Na terceira vez, em julho de 2015, visitei a cidade com minha irmã e uma amiga. Aí pude retomar o encantamento pela cidade e passear com mais calma, debulhando os detalhes. Aprofundei alguns passeios mais turísticos que me haviam passado, estive mais tranquila e aí foi a experiência de compartilhar o que se conhece da cidade com outras pessoas. Aqui divido as miradas sobre esse momento.
 
Na quarta vez, em agosto de 2015, por um Congresso de Comunicação retornei e, por estar sem grana e querer vivenciar outros lados da cidade, me hospedei por meio de couchsurfing. Creio que é uma das melhores oportunidades para perceber as diversas afinidades que os cidadãos constroem com a cidade, reconhecer de seus lugares afetivos e lançar uma lente macro sobre como um se organiza em seu ambiente privado, sua casa, e como se coloca a acolher aqueles com miradas dispersas e desorientadas. Assim que aqui discorro um pouco mais sobre essa estadia, de maneira mais distante do olhar encantado do turismo fantasioso.

domingo, 2 de agosto de 2015

ego

A cada dia, 

Tinha percebido algo. Era algo não comum e algo que a confundia. Era o ego. Era aquele ego que nem identificava em si, mas que estava ali, muitas vezes como protagonista das ações. Era aquela falsa imagem de independência e equilíbrio que queria deixar nas pessoas, era aquele olhar não correspondido com medo de tornar-se suscetível. Era aquela imersão adentro que tanto percebe nos textos anteriores, que nem nem miram o que está afora. O ato focalizado é aquele de dentro.

Passado meses, vem o esclarecimento: não havia nada para expelir, e aquilo era apenas algo que cultivava por ter medo da demasiada leveza e do vazio. Queria sentir um pouco do peso do afeto, não queria deixá-lo ir por esse medo de ter pés flutuantes. Falta-lhe o controle. Deixar ir, porque já ali não mais está. Já foi e não se havia dado conta que outra vida já se refez. Sim. O outro era o aquele brincalhão que vez ou outra se vai, se vem e por isso não há confiança. O que ela acreditou ter sido o melhor a fazer foi se afastar, para que a imagem que tinha sobre fora aquela de moça independente. Simplesmente porque não o agradava o apego. A era, o contrário, mas não queria admitir. 

Depois, vê se que se encontra uma pessoa que se dominar pelo ego. Pela ação arbitrária, do só fazer a atividades propostas por outras no tempo que lhe for conveniente, mesmo sabendo que aquilo vá causar dano a outras pessoas. A imagem que quer passar é a de independência frente a outras pessoas, já que estas supostamente não importariam. Sua companhia, a princípio, lhe bastaria. Mas adentro, creio que percebe que não. 

Em seguida, outra que é seu espelho, mas um espelho que avalia e que põe suas ações em julgamento. Aquilo era demasiado incômodo. Aquilo de sentir-se olhada e em constante avaliação. Aquilo de ter que pisar em ovos diariamente e de ter o cuidado com as palavras, explicá-las bem, a fim de evitar uma menção à grosseria. Tudo importava muito. Talvez tudo importe muito para as pessoas e estas, por fim, não são sinceras e dizem que não importa. A outra pessoa é sincera e reclama por isso em cada detalhe. Aprendemos constantemente a relevar. 

Era seu espelho porque tinha comportamentos que ela tinha. O da indecisão e do tempo que outras pessoas levam esperando por uma decisão; o do esquecimento de detalhes ou do que havia que fazer e isso a fazia voltar muitas vezes ao mesmo lugar; o de ser literal e confiar muito em só no que as pessoas dizem verbalmente, sendo as entrelinhas contém mais do que um expressa; o de não ter iniciativa, esperando que aja primeiramente a outra pessoa; o de ser tacanha quando nem percebe que está sendo.

Já a outra era o que a fazia olhar para frente e uma referência de liberdade. A valorização da bicicleta, o espírito viajeiro, o do dizer e fazer, o de cuidar de plantas, o de cozinhar bem, de compartilhar sua casa, de presentear com o que já não lhe serve mais, o saber conversar e agregar pessoas mesmo não tendo amigos que se a identifiquem, o das leituras literárias, o de saber se impor quando a situação lhe pede. O de ser. Essa ânsia de sair e sua organização que a faz deixar de lado o ego manifesto na vontade e agir quando não se tem vontade, mas fazendo.

Era o seu aprendizado diário. Aquele comportamento que a fazia querer ser como e aquele muito perto, que olha, avalia e tenta orientar. Apontar os defeitos e falar sobre eles, incomoda. Será esse o meu incômodo? Ou é a sua maneira de abordar? Às vezes essa situação cansa, de ter um olhar tão próximo dizendo-nos como portar-se. 

Isso também me faz perceber que preciso voltar a meditar e não me deixar ser indiferente com o que passa na rua, por exemplo. Isso do beber constantemente faz a gente voltar-se somente a si e às nossas atividades. 







quinta-feira, 3 de outubro de 2013

É Belo Horizonte!

----- A Cidade
Algo despertou em Belo Horizonte. Cidade grande, avenidas enormes e entrecruzadas, dificuldade em atravessá-las. É um risco; uma aventura aos desatentos. Muita gente desmaiada em calçadas, tentando descansar da noite em claro: são os moradores deste espaço público; são aqueles que o ocupam quando a maioria já se recolheu em seus espaços privados. Fuligem nos pés, nas roupas que vagam. Praça Sete, lugar central do centro. Gente que mostra seu trabalho artesanal, gente que ao fim da parada LGBT se reúne a dançar um soul – parte de um movimento de intervenção nas ruas com discotecagem. Incrível ver aqueles e aquelas reunidos rendidos ao ritmo e ao olhar curioso. Como a música agrega!
 
         Bonita a feira hippie que não vimos e que acontece aos domingos. Bonito ver uma feira, em pleno sábado, que compartilha outra ideia de vida: comidas e bens com proposta de elementos orgânicos, sustentáveis. Músicas tranquilas que embalam aqueles que se dispõem a deitar debaixo de uma lona; gente que discute ocupação do espaço público e capitalismo; gente que expõe o tijolo Adobe como alternativa; gente que distribui mudas de hortelã. É a alternativa do metrô; é a desigualdade escancarada no Bairro da Pampulha: é o difícil acesso aos que trabalham nas residências luxuosas.
 
E o moço do fiteiro, ainda na Pampulha, diz: “Eles não querem que eu ou você tenha acesso ao lugar ‘deles’. É o mundinho ‘deles’”. E, em seguida, peguei a única linha de ônibus do local que passava ao Centro junto a duas moças que trabalham numa dessas casas. Quando menos esperei, uma delas, já um tanto conformada e ao mesmo tempo amargurada, diz: “Ônibus é, mesmo, uma merda”. O movimento Passe Livre, no entanto, ainda continua nas ruas: coloca stands em espaços parceiros, vendem blusas e deixam cair cartazes com os dizeres: “Tarifa Zero”.
 
Alguns Centros Culturais. No entanto, esse movimento é “novo”; recente, digamos. Banco do Brasil, por exemplo, abriu um dia desses. Outro que recebeu obras de Picasso ficou de estabelecer comunicação acerca da inauguração depois do dia 09 de outubro, salvo engano. Os teatros, por sua vez, somam mais de cinquenta. Vimos, gratuitamente, uma exposição de Escher no Palácio das Artes. Vejam a grandiosidade do nome: Palácio. Bonita. Bonito. Tentamos ver materiais gráficos e brindes que poderiam servir como referências de ações do Piollin. Ah! E por falar nisso, vendemos camisas, bloquinhos e ímãs. Massa como isso funciona para nossa manutenção. Fomos ao Inhotim. Interessante ver como há um trabalho com Brumadinho, que é a cidade onde espaço se localiza. No entanto, é algo caro, grandioso por demais. Tudo diferente. É bom respirar esses ares novos e voltar.
 
É uma interpretação do que foi visto. E é muito bom perceber que o movimento de interpretação e construção não para. É a instiga de sacudir a cena cultural.

---- O estágio, curso, compartilhamento de conhecimento, diálogo

Assistimos e compartilhamos experiências num cinema restaurado, transformado num espaço chamado Galpão Cine Horto. O lugar é alugado. No entanto, o cinema em si, enquanto arte e espaço, não são tão movimentados; direcionam-se as ações para o Teatro. Éramos 21 pessoas, sendo sete da Paraíba – estas parte dos Grupos Graxa e Lavoura, Piollin e, ainda, Trupe Arlequin.
Nestes dias, falamos de processos decisórios lentos, mas que são consistentes e desembocam em decisões mais sólidas. Falamos do apego aos projetos, da insistência e da não desistência deles, mesmo quando a situação parece complicada. Falamos da necessidade de nos trabalharmos para assumir isso de se lançar, se jogar. Da proatividade. Disso, também, de registrar os espaços que acontecem: os bastidores, as crises, os conflitos. De adotar essa ideia de escriba, mesmo.
Interessante, também, perceber a nossa função enquanto terceiro setor: é uma função pública por nos utilizarmos de financiamento público. Somos a continuidade que acontece por meio da sociedade civil e de organização. Outra coisa discutida foi a de tirar, um pouco, os artistas do fazer artístico e estes se colocarem como gestores; é uma troca significativa. Ideia de colocar no prático um tanto de poesia. Mas, também é importante algumas pessoas da gestão não sejam artistas; o distanciamento também é necessário.
Pensar a troca com a comunidade. Por exemplo, o Galpão tem o projeto "Conexão Galpão" que parece o Teatro Aberto. Uma das questões levantadas foi: como se dá a devolutiva das escolas à instituição? Como os espetáculos e oficinas reverberam nas escolas e no cotidiano? Professor é, então, a ponte. Também se falou de núcleos de pesquisa; de formação interna.
 
E a questão da comunicação nisso tudo. E as muitas questões que vão desde cumprir a contrapartida de projetos - que pode ser a divulgação de patrocinadores, apoiadores - até ações de clipagem, acompanhamento de material gráfico e spots, desenvolvimento do plano de comunicação e trabalho, comunicação interna através de boletins, suporte no banco de dados da instituição, atualização de redes sociais e sítio, escrita de textos, divulgação, relacionamento com a imprensa, registro dos espaços da instituição, pensar ações de fidelização de público, feitura de relatórios... Tudo isso foi compartilhado.
 
E o que move a estrutura do Galpão? E para que isso existe? Para manter o grupo de teatro que se desdobrou em outras ações. Entender a proposta teatral é, portanto, importante. E, pelo o que entendi, esta foca em algo como uma direção coletiva, ou seja, o ator tem papel ativo na construção do espetáculo. O grupo de atores permanece, mudando sempre o diretor. Há muito a prática de workshops para processo criativo dos espetáculos: cada um cria uma cena e monta figurino, por exemplo. A ideia é jogada e utilizada pelo todo. “Na vida a gente não cabia enquanto um ser que é artista; no teatro a gente cabe”. E a base é a vontade de ocupar o mundo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Educomunicação em Pauta


Emprego dos meios de comunicação para gerar conteúdo de informação e educação. Esse profissional integra equipes que desenvolvem projetos educacionais em TV, internet ou em jornal. Pesquisa e compartilha conteúdo com outros alunos em bate-papo on-line, videoconferência, blog e rádio, entre outros. Assessora ONGs, veículos de comunicação, estabelecimentos de ensino e órgãos públicos em projetos de comunicação e educação.

Mercado de Trabalho

Ainda não há o profissional formado por esse curso no mercado. A expectativa é que ele atue na área de ensino, agindo em parceria com professores na articulação de projetos que incluam a comunicação no currículo escolar. "Ele também pode trabalhar em ONGs, espaços culturais, museus e em órgãos do governo na área de projetos educacionais que envolvem a comunicação", diz Danielle Andrade Souza, coordenadora do bacharelado em Educomunicação da UFCG. Emissoras de TV, revistas e jornais devem contratar o profissional para atuar na produção de conteúdo na área de educação. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste concentram as melhores oportunidades

Curso

O curso conta com muitas disciplinas de Humanas, como teoria da comunicação, sociologia da comunicação, ação educomunicativa e fundamentos da educomunicação. Na USP, que oferece a licenciatura, a grade é composta de matérias ligadas às práticas de ensino. Na UCG, o bacharelado oferece disciplinas na área de comunicação, como fotografia, produção de texto e roteiro de rádio e TV. Em ambas as escolas, a realização de um estágio e a apresentação de um trabalho de conclusão de curso são obrigatórias. 

Duração média: quatro anos. 

Outro nome: comun. soc. (educomunicação).

O que você pode fazer

Consultoria

Planejar, elaborar e pôr em prática projetos educacionais que visem ao uso de mídias diversas, como internet e TV.

Ensino com licenciatura

Dar aulas de comunicação no Ensino Médio.

Pesquisa

Estudar a relação da educação com os meios de comunicação, como a televisão, o rádio e a internet, entre outros.

Reportagem

Apurar, escrever e editar notícias em jornais, revistas e TV.